A abençoada loucura de perceber o imperfeito

O Espaço de Memória – Que é um espaço imenso, impossível de medir, já que tem milhares de anos-luz percorridos pelo sonho dos loucos que não desistem de pintar o mundo de outra cor. Ou um mundo de homens verdadeiros, aqueles que mais não são que loucos que acreditam na sua loucura. Isto mais não é como escrevia Foucault: “De homem a homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco”. Em nome desta abençoada loucura havemos de rasurar da nossa linguagem o pretérito imperfeito. Assim: jamais dizer devia, queria, seria… Mas dizer: deve, quero, é. Perdemos tempos preciosos com a imperfeição dos verbos.

Não devia mudar o mundo? Devo mudar, fazendo alguma coisa que o ajude a mudar, mais não seja escrever, talvez pintar… Umas vezes a chorar, outras vezes a sorrir. São memórias de um velho auto-retrato quando pensava: Devo partir. Em vez de dizer: devia partir. Tantas voltas depois, a memória me devolve à criança indomada que nunca deixei de ser. Essa criança que ainda diz: Não me confinem. Não vale a pena me confinarem, ou ainda ganho asas. Por mais perturbadores que sejam os dias, não deixem morrer a criança que dentro de vós se agiganta, dizendo: Não me confinem.
Vejam bem: são saudades do futuro!
Leonor Fernandes, autora Sociedade Justa – grupo privado no Facebook

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