Onde estamos e para onde vamos?

Um dos maiores males das sociedades modernas foi o das pessoas terem perdido o gosto pelas coisas simples. Terem perdido a comunhão com a natureza e tudo o que ela oferece. Arrancam assim de si as suas sensibilidades naturais e entregam-se a um mundo artificial e alienante.

Talvez esteja aí o princípio de tudo. Da sua indiferença, das suas angústias e das suas insatisfações. Querem o que não possuem e, quando conseguem obter, depressa se cansam. Porque as necessidades humanas nunca estão satisfeitas. Enveredámos na procura louca da procura. Perdidos de nós mesmos e sempre angustiados.

A sociedade do fátuo e do transitório abana e deita por terra a tranquilidade dos dias. E as pessoas esquecem-se que a vida passa depressa e que há que aproveitá-la a cada instante. Destroem o planeta com um consumo que este não aguenta. Esquecem-se dos outros e de si próprias.

Portugal é o País da Europa e o segundo do mundo – só atrás dos Estados Unidos – com mais casos de depressão. Segundo Paulo Borges (Círculo do Entre-Ser), em 2015, milhares de crianças portuguesas, desde tenra idade até aos 14 anos, consumiram 5 milhões de calmantes.

Alienados e mortos de cansaço continuamos nesta correria louca. Se em todo o planeta todas as populações consumissem como se consome em Portugal (e não somos dos piores), o planeta acabava amanhã.

E é esta a pior das pandemias que estamos a enfrentar. Só que desta parecemos não nos dar conta.

Somos explorados por um sistema em que as economias crescem assentes na produção de bens de consumo desnecessários. Explora-se o trabalho e retiram-se às pessoas o descanso e as condições de vida. E tudo apenas para alimentar os lucros de uma minoria.

Somos explorados e auto-exploramo-nos. Não se tem tempo a não ser para trabalhar e deslocarmo-nos entre a casa e o trabalho sem tempo para os outros nem para nós mesmos.

Esperemos que o regresso “a normalidade” depois da pandemia não continue a fazer-se nos mesmos moldes. Que as pessoas adquiram tempo para criar, amar e sentir-se vivas. Que os empregos perdidos sejam recuperados através doutros com objectivos diferentes assentes na procura do equilíbrio e do bem-estar mental e social. Esperemos que não sejam deixados para trás os mais fracos e desprotegidos e que a reconstrução do que foi perdido não se faça à custa dos mesmos modelos alienantes. Que todos os sacrifícios que fizemos e tudo o que perdemos não tenham sido de todo em vão.

É tempo para reflectir. É tempo para agir. É tempo para repensar para onde vamos e o que realmente queremos.

Lídia Maria das Neves Soares
Reformada. Actividade profissional na área de marketing, comunicação e imagem no sector de transportes. Licenciada em Sociologia e com mestrado e/ou post graduação em Comunicação e Tecnologias de Informação e Economia do Território e do Ambiente.

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