Orlando Mota e Costa – a decisão serena

O padre Orlando que nos deixou neste inverno desolador reside na nossa memória onde abundam notícias das que sempre quisemos ouvir: o serviço e a dedicação aos outros a partir da sua paróquia de Cedofeita, na cidade do Porto.

Talhado para missões impossíveis, sabia ler os sinais do tempo e agir em conformidade na acção a favor dos mais pobres. Nos tempos difíceis – quando em Portugal se talhavam os destinos legais das IPSS (na altura ninguém sabia o que isso era) deu o peito às balas à semelhança de Virgílio Lopes, sacerdote de Viseu que dera os primeiros passos na libertação das Misericórdias do jugo da nacionalização.

Foi no Perpétuo Socorro, no Porto, que se deu o acto fundador. O padre Marinho Cia, o padre Virgílio Lopes, da União das Misericórdias e o padre Orlando Mota e Costa, de Cedofeita, – todos falecidos – deram o rosto e foram os grandes obreiros do acto fundador da UIPSS. Combateram a bom combate e conseguiram plasmar na lei o reconhecimento do estatuto legal das instituições – o Decreto-Lei 119/83.

O Cónego Orlando Mota e Costa foi eleito o primeiro presidente da União das Instituições Privadas de Solidariedade Social, no dia 23 de Maio de 1981, numa Assembleia-geral realizada no Centro de Caridade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Porto. Foi presidente da Direção durante um mandato de três anos. No dia 17 de Novembro de 1984 passou para a liderança da Mesa da Assembleia-geral onde se manteve durante mais um triénio.

Marinho Cia lendo os estatutos de constituição. Terceiro da direita para a esquerda Feliciano Ramos – colaborador essencial para o crescimento da UIPSS. Morais Leitão (à esquerda como ministro).

Instituições Fundadoras:

“Abrigo Nossa Senhora da Esperança”, Porto
“Casa de Santa Maria”, Porto
“Obra da Rua” ou “Obra do Padre Américo”, Penafiel
“Associação das Creches de São Vicente de Paulo”, Porto
“Misericórdia de Gaia”, V. N. de Gaia
“Santa Casa da Misericórdia de Penafiel”, Penafiel
“Obra de Nossa Senhora das Candeias”, Porto
“Lar de Santa Isabel”, V.N. de Gaia
“Centro Social, Cultural e Recreativo Arvorense”, Vila do Conde
“Instituto das Religiosas de Maria Imaculada”, Porto
“Casa Madalena de Canossa”, Porto
“Florinhas do Lar e Abrigo do Sagrado Coração de Jesus”, Porto
“Centro Paroquial de Santo António das Antas”, Porto
“Instituto de São José”, Vila do Conde
“Santa Casa da Misericórdia do Porto”, Porto
“Associação Contra a Tuberculose”, Porto
“Centro Social Paroquial de Perosinho”, V. N. de Gaia
“Congregação das Servas Franciscanas de Nossa Senhora das Graças”, Braga
“Santa Casa de Misericórdia de Lousada”, Lousada
“Centro Social da Sé Catedral”, Porto
“Cruzada do Bem”, Porto
“Centro da Caridade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, Porto
“Centro Social Paroquial de Cedofeita”, Porto
“Centro de Assistência Social da Freguesia da Senhora da Conceição”, Vale de Cambra
“Instituto do Arcediago Van-Zeller”, Porto
“Instituto do Bom Pastor Haurietis Áquas”, Valongo
“Oficina de São José”, Oliveira de Azeméis
“Associação Católica Internacional ao Serviço da Juventude Feminina”, Matosinhos
“Centro de Bem-Estar Infantil e Juvenil do Coração de Jesus”, Santo Tirso
“Centro de Auxílio aos Pobres de Roriz”, Santo Tirso
“Colégio dos Órfãos de São Caetano” Braga
“Jardim Infantil do Bairro Pio Doze”, Porto
“Centro Social da Paróquia de Miragaia”, Porto
“Oficina de São José de Braga”, Braga
“Centro Social da Paróquia de Castelões”, Vila Nova de Famalicão
“Patronato de Nossa Senhora da Vitória”, Porto
“Internato Juvenil de Campanha”, Porto
“Instituto do Coração Doloroso de Maria”, Porto
“Centro Paroquial de Assistência e Formação Social do Carvalhido”, Porto
“Património dos Pobres – Calvário do Carvalhido”, Porto
“Lar de Nossa Senhora do Livramento”, Porto
“Casa da Imaculada Conceição, Jardim Infantil” Viseu
“Lar de Nossa Senhora do Sameiro”, Braga

“No dia quinze de Janeiro de mil novecentos e oitenta e um, na cidade do Porto e na Rua de Costa Cabral, número cento e vinte e oito, perante mim, José Cabral de Matos, Notário no Terceiro Cartório Notarial do Porto, compareceram como outorgantes:” – assim se explicita em registo notarial a constituição da UIPSS.

Comentário

Lembro-me como se fosse hoje. Destacado para fazer a reportagem da assembleia para a Rádio Renascença onde tinha começado a trabalhar. O padre Marinho Cia explicou-me o que era uma IPSS – tanta era a variedade de modelos – e a necessidade de defender estas organizações como tinha acontecido com a “libertação” das misericóridas.

A democracia estava com dificuldade em acolher estas organizações da sociedade civil e mesmo a Segurança Social estava desprovida de meios para acompanhar a generosidade de tantos voluntários. E o número de instituições ligadas à Igreja Católica também era visto como um exército que era preciso vigiar.

Dom Armindo Coelho – então vigário-geral da diocese do Porto – aconselhou-me a falar com o Padre Orlando. E visitei as instituições a que ele estava ligado e a sua obra. A partir daqui foi fácil perceber o universo que acompanho até hoje.

Arnaldo Meireles

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