Nenhuma outra geração, antes da minha, se confrontou, ao longo da sua vida, com tantas e tão diferentes mudanças, muitas de sinal contrário. Muito do que aprendemos na Universidade durante os anos 80 ficou obsoleto nos anos 90 e nas décadas seguintes.
Assistimos à queda do muro do Berlim e, também, ao massacre de Tiananmen. Na Europa foram muitas as mudanças. Os modelos liberais reforçaram-se e, muitos de nós, chegamos a acreditar que o bom Estado tem que ser pequeno. Depois dos atentados terroristas nos EUA e à porta na nossa casa percebemos como somos frágeis e disponibilizamo-nos a sacrificar a nossa privacidade e liberdade em troca de vaga sensação de segurança.
As catástrofes climáticas entraram-nos pela porta dentro e aquilo que era uma preocupação ambiental transformou-se numa questão de sobrevivência a um prazo cada vez mais curto. Toda a espécie de crises nos assolaram ou assolam a existência.
A fragilidade da ordem mundial, a crise do multilateralismo, uma UE que se arrasta pesadamente entre o utilitarismo e os conflitos de interesses cada vez mais evidentes. A crise financeira, o empobrecimento e o desemprego de muitos de nós. Algumas vitórias e muitas distrações. Tantos livros, tantos filmes, tantos concertos e tantos locais onde ir.
Agora, a crise sanitária e de saúde pública e todas as mudanças nos nossos dias, nos nossos trabalhos, nas nossas casas. A família e os amigos mais distantes, ou mais próximos, mas fisicamente afastados. Voltamos para casa e nunca se viram tantas fotos de comida, receitas de bolos e pets, nas redes socais. Estamos domésticos, ainda que figuremos em fotos de paisagens distantes e exóticas.
Ensinam-nos a confecionar máscaras de tecido, a nós que só compramos pronto-a-vestir e que mal sabemos pregar um botão. Não sabemos o vai acontecer aos nossos trabalhos e às nossas empresas, mas por isso já passamos várias vezes.