Estabilidade do clima na Terra depende da Amazónia

Vastas extensões de cobertura de árvores foram desmatadas nos últimos 50 anos para a produção de madeira, soja, óleo de palma, biocombustíveis ou carne bovina.

A bacia amazônica sustenta a maior floresta tropical do mundo e desempenha um papel essencial na regulação de climas regionais e até globais

A bacia amazónica sustenta a maior floresta tropical do mundo e desempenha um papel essencial na regulação de climas regionais e até globais (AFP)

A bacia amazónica sustenta a maior floresta tropical do mundo e desempenha um papel essencial na regulação de climas regionais e até globais. Veja abaixo alguns factos sobre a região:

Desmatamento

A destruição contínua de suas florestas tropicais – medida em dezenas de milhares de quilómetros quadrados por ano – poderia transformar grande parte da Amazónia em savana árida, com impactos maciços no clima e na biodiversidade em todo o mundo, alertam especialistas.

Numa área de mais de cinco milhões de quilómetros quadrados, a densa cobertura tropical da Amazónia armazena uma enorme quantidade de carbono, equivalente a 10 vezes a quantidade que a humanidade libera na atmosfera a cada ano.

Cerca de 20% da floresta amazónica desapareceu nos últimos 50 anos. Vastas extensões de cobertura de árvores foram desmatadas, principalmente para a produção de madeira, soja, óleo de palma, biocombustíveis ou carne bovina.

Sumidouro de carbono

Quando uma árvore é cortada, seu carbono armazenado vazará para a atmosfera gradualmente; quando é queimada, o CO2 escapa de uma só vez. De qualquer forma, contribui para o aquecimento global.

Ao mesmo tempo, as florestas do mundo – e especialmente dos trópicos – absorvem 25 a 30% do dióxido de carbono que a humanidade lança na atmosfera. Os oceanos absorvem outros 20%.

Sem esses “sumidouros” de CO2, a temperatura da superfície da Terra já estaria mais alta, e o risco de aquecimento global descontrolado seria muito maior.

Dos cerca de 160 mil km2 de cobertura de árvores tropicais perdidos em todo o mundo em 2017, 35% foram na Amazónia e mais de um quarto no Brasil, segundo o World Resources Institute (WRI), um centro de estudos de política ambiental.

“As florestas tropicais do mundo estão agora no pronto-socorro”, disse à AFP no início deste ano Frances Seymour, membro sénior do WRI.

“A saúde do planeta está em jogo. A cada hectare perdido, estamos muito mais perto do cenário assustador de mudança climática desenfreada”.

“Pulmão do planeta”?

Além do Brasil, sete nações situam-se na bacia amazónica: Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e o território ultramarino da Guiana Francesa.

Além de capturar e armazenar carbono, as florestas também afectam a velocidade do vento, os padrões de chuvas e a mistura de substâncias químicas na atmosfera.

A Amazónia é frequentemente descrita como o “pulmão do planeta” e como produtora de uma percentagem significativa do oxigénio do mundo, mas essas afirmações são imprecisas.

Segundo o cientista ambiental Jonathan Foley, diretor executivo do Project Drawdown, esta floresta produz cerca “de 6% [do nosso oxigénio], talvez menos”.

“Há muitas razões para se preocupar com os recentes aumentos no desmatamento da Amazónia – carbono, clima, água, biodiversidade e populações. Mas o oxigénio, graças a Deus, não é uma delas”, acrescentou.

Temporada de incêndios

O grande número de incêndios em todo o sudeste do Brasil que uniu os líderes mundiais em torno a uma resposta de emergência tornou-se, na verdade, típico nessa época do ano nas últimas décadas.

O total de quase 150 mil incêndios no Brasil até agora em 2019 é menor do que em 2016. De 2002 a 2010, houve cinco anos em que o número de incêndios em agosto chegou a 200 mil.

O auge da “temporada de incêndios” é setembro, quando o número aumenta ainda mais.

“Parece que muitos dos incêndios na Amazónia estão acontecendo em terras que já haviam sido desmatadas”, disseram Mikaela Weisse e Sarah Ruiz, do Global Forest Watch, com sede em Washington, DC, em um post em um blog esta semana.

Na Amazónia, quando se capina uma floresta, retiram-se os troncos, mas o resto da vegetação queima no lugar durante a temporada seca, que vai de julho a novembro. Nas terras agrícolas, ou de pastagem, a vegetação e as ervas daninhas também se acumulam, esperando a chegada da seca. Isto é o que está queimando neste momento, explicam os especialistas.

A Amazónia também abriga uma das colecções de diversidade biológica mais concentradas e extensas da Terra, incluindo centenas de plantas usadas nas medicinas tradicional e moderna.

AFP

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