A ambição do setor social tem de ser uma opção das instituições portuguesas – defendeu Marques Mendes no colóquio da União das Mutualidades – elas que, segundo o autor, “provaram a sua capacidade de organização, resistência e qualidade de serviço público durante a tragédia do COVID”.
Defendendo também mais ambição para a economia (até para poder financiar o setor social) o agora candidato presidencial voltou a referir algumas ideias expressas no colóquio da UMP no passado e que aqui pode rever. Contudo, fê-lo com equilíbrio chegando a esclarecer “não gostar da expressão “unicórnio” quando se pretende defender a “concentração de serviços para melhor resposta aos utentes”.
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Comentário
O Perfume do Capitalismo?
Marques Mendes passou com distinção no teste que a União das Mutualidades montou em Espinho dando oportunidade em dois anos seguidos a destacados militantes do PSD para sustentarem a tese de que é urgente uma “concentração de serviços” que por sua vez permita dar corpo às instituições sociais e que assim dotadas de “capacidade crítica” estariam disponíveis para abraçar os “grandes desígnios” da Nação em matéria social.
Quase se percebe que as dificuldades conhecidas, nomeadamente na área dos idosos, seriam facilmente resolúveis se estes fossem acolhidos em megainstituições, dotadas de uma especial capacidade de gestão, proveniente, evidentemente, de estruturas financeiras suficientes e até abundantes que, para além de beneficiarem os clientes/idosos até operariam o milagre secular de “aliviar as contas do Estado”.
Não nos devemos rir, por respeito à instituição, mas apresentar uma área da intervenção social sob a perspectiva de criação de um “unicórnio”… em Portugal e para isso chamar a colóquio personalidades como Marques Mendes é correr o risco de o convidado afirmar que “até nem concorda com o termo”, aliás, como aconteceu.
E se nos referimos a isto neste comentário é por verificarmos que a viragem à direita no nosso país – e que se vai acentuar – está a ser sustentada com o regresso à fé inabalável nos triunfos dos mercados, nomeadamente com incidência na atividade do setor social onde se começa a perceber uma incomodidade com dirigentes/voluntários que sublinham a natureza e identidade das instituições sociais.
Também descobrimos que estes raciocínios baseados em “sociologia do excel” mais não são que suspiros leves da ambição dos negócios com as pessoas aqui vistas como oportunidade de lucro rápido.
A facilidade com que se afirma que as instituições sociais têm a dimensão errada, problemas de gestão e até ineficácia na resolução dos problemas sociais nas nossas comunidades, é uma provocação institucional.
Felizmente, Marques Mendes surpreendeu toda a gente. Pelo menos aqueles que esperavam a defesa do tal “unicórnio social”. Declarou com clareza sibilina que as instituições sociais precisam é de mais ambição, puxando da sua credibilidade conquistada num momento de rutura social como foi o do COVID.
Seja como for, convidamos os nossos leitores a verem as declarações de Marques Mendes e a recordar as declarações do ano passado de Marco António Costa. Está lá tudo. E dá para perceber o tipo de incenso que anda a ser procurado e a que importa resistir.
Por Arnaldo Meireles
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