Encerramento de “lares ilegais” esconde pobreza envergonhada

Perante o encerramento de 93 “lares ilegais” decretado na última semana, e relatados nos jornais, o presidente da ANDS, Alfredo Cardoso, publicou um comunicado no jornal da associação “Dirigente Social” e onde refere a existência de cinquenta mil idosos a viver nestas situações, questionando os condicionalismos que levam os idosos e suas famílias a optarem por estas situações mais “baratas” e o desinvestimento do Estado nos lares das IPSS que estão impedidos de receber pessoas que vivem na pobreza.

Eis o comunicado da ANDS:

Esta posição apenas me envolve, a mim, e não à ANDS – Associação Nacional de Dirigentes Sociais, da qual sou Presidente da Direção.

Foram decretados 93 encerramentos de “Lares Ilegais”, relativo ao ano de 2019.

Acrescenta a notícia que nove foram encerrados, com urgência, com perigo de saúde e segurança para os idosos.

Ora, se consultarmos o histórico destes encerramentos, verificamos que a situação passa de ano para ano sem que se sejam tomadas medidas adequadas e eficazes para se debelar o fenómeno.

Efetivamente, o que tem acontecido é que, quando os encerramentos são de natureza administrativa, é seguro e certo que os protagonistas apenas mudam de instalações, como bem assinala o Presidente da Associação de Apoio Domiciliário de Lares e Casas de Apoio, ou como diz o Presidente da CNIS … “os preços praticados, mesmo num lar comparticipado, são incomportáveis para uma grande parte das famílias que têm de despender mais de 1.000 euros por mês …”, acrescentando mais à frente, “que se assiste hoje a um oportunismo na Comunidade Portuguesa, que leva a que se abram lares que não respeitam os parâmetros e praticam preços que conseguem chegar a metade dos praticados pelas I.P.S.S.”

Nenhuma portuguesa ou português, bem formados, deixava de subscrever por baixo estas duas tomadas de posição. Porém, parece que se quer deixar escapar um pormenor que me tem provocado algumas dúvidas, traduzidas no seguinte:

Existe ou não existe um ficheiro de todos os idosos, elaborado ao longo dos anos, com origem nos sítios que são encerrados por força da intervenção do I.S.S.?

– Se existe, foi feita alguma avaliação social acerca dos rendimentos familiares e, em consequência disso, feita a separação do “trigo do joio”, com vista a separar aqueles que têm possibilidades, mas que por razões de egoísmo colocam os seus muitas vezes sem o mínimo de condições, e aqueles que não as têm? Já encarou a Segurança Social medidas de exceção na comparticipação para a sua colocação numa I.P.S.S.?

– Sabendo-se que existem cerca de 50 mil idosos que frequentam estes sítios (que não lares), que dotação tem o Orçamento da Segurança Social para alterar este estado de coisas, designadamente ao nível do financiamento desta valência?… Vai continuar o subfinanciamento às I.P.S.S., ou vai arcar com a responsabilidade de albergar todos os que precisam, com os custos totais inerentes em equipamentos do Estado?

Enquanto Dirigente Social nunca assobiarei para o ar nestas situações, lutarei para que o Estado assuma as suas responsabilidades e lutarei para que o “oportunismo baratinho”, destes sítios, não seja usado como “modelo encapotado” para subfinanciamentos ou, pior ainda, para considerarem que as I.P.S.S., que cumprem com tudo e mais alguma coisa, sejam acusadas de esbanjamento.

Até sempre!

Alfredo Cardoso, presidente da direcção da Associação Nacional de Dirigentes Sociais

NOTA – em vez de prendas, fica a angústia para a Terceira Idade que está sujeita a estas vicissitudes (a notícia foi publicada no Dia Mundial da Terceira Idade) … enfim, nada muda … para tudo continuar pior.

 

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