São cada vez mais os idosos que depois de internados nos hospitais e na sequência de alta clínica ficam retidos ocupando camas hospitalares que fazem falta ao sistema de saúde. Esta deficiência social vem de longe mas está a acentuar-se: mais de 1.500 camas dos hospitais públicos são ocupadas por pessoas que já tiveram alta, mas que se mantém internadas por falta de resposta extra-hospitalar, correspondendo a 8,7% dos internamentos – revelou a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH).
Num total de 17.826 internamentos registados no dia 18 de fevereiro, 1.551 eram “internamentos inapropriados”, mais 722 (mais 87%) face à edição anterior do Barómetro de Internamentos Sociais, um aumento para o qual contribuiu a subida da cobertura do amostra do estudo, que passou de 79% das camas na terceira edição do barómetro para 90% na edição atual.
O número total de dias de internamentos sociais foi de 119.971, sendo de 77,4 dias a demora média nacional por internamento inapropriado, menos 21% que na edição anterior do barómetro que vai na quarta edição.
Lisboa e Vale do Tejo são as regiões com maior número de internamentos sociais, representando 81% do total, refere o estudo, segundo o qual 80% destes doentes têm mais de 65 anos.
Em declarações à agência Lusa o presidente da APAH, Alexandre Lourenço, adiantou que o estudo abrangeu 40 entidades do SNS e do Serviço Regional de Saúde dos Açores, mais sete comparativamente à edição anterior, e “teve uma cobertura de cerca de 90% do total de camas”, mais 9,6% face ao último estudo.
Para Alexandre Lourenço, o número de internamentos sociais (8,7%, mais 4% do que no ano anterior) é “muito esmagador”. “Cerca de um em cada dez internamentos são desnecessárias e poderíamos estar a prestar cuidados mais adequados fora das instituições a estes doentes”, afirmou.
“Também é muito marcante o valor financeiro associado, que ultrapassa os 180 milhões de euros”, sublinhou, considerando que acaba por ser “um desperdício” porque podia ser aplicado no desenvolvimento da Rede Nacional de Cuidados continuados ou no desenvolvimento de respostas sociais.
“Seria muito melhor utilizado e com melhores resultados para a saúde dos doentes que se mantém internados por falta de respostas extra-hospitalares”, justificou.
Como razões para o aumento do número destes internamentos, apontou a “cobertura maior” deste barómetro relativamente às edições anteriores, que permite obter “um retrato melhor da situação nacional”.
Apesar de estes doentes terem alta clínica, a maior parte permanece no hospital (57%) porque está a aguardar vaga da Rede Nacional de Cuidados Continuados, 16% por incapacidade de resposta familiar ou do cuidador e 9% aguardam vaga num lar da terceira idade.
“Porque cada dia a mais internado, o doente vai perder funcionalidade e depois vai ser muito mais difícil que a própria família o consiga receber em casa, uma vez que acaba por estar fisicamente muito limitado, necessitando muitas vezes até de cuidados de reabilitação”, sublinhou.
Lares sem capacidade para receber doentes com covid internados em hospitais
Entretanto a União das Misericórdias sublinhou a necessidade de ser criada uma solução para idosos internados com Covid dado que os lares não sendo instituições de saúde não estou preparados para esse desafio: “os lares não t~em condições nem estrutura para tal daí que se criem condições para a propagação do vírus-
Referindo que a entrega aos familiares também não é solução, Manuel Lemos propôs a criação de instalações específicas para acolher idosos que testem positivo para Covid-19, seja selecionando um lar por concelho ou distrito para o efeito, ou montando um hospital de campanha.
O importante, referiu, é que nesses locais estejam disponíveis todos os recursos humanos e de equipamentos necessários para o tratamento dessas pessoas, e haja uma via aberta para os hospitais.
“Deixar ficar pessoas positivas nos lares de idosos sem se reforçarem os recursos de saúde não é digno e é preciso dizê-lo”, afirmou Manuel Lemos.
O presidente da UMP referiu que defende, há muitos anos, a necessidade de mudar a situação dos lares, mas o Estado “não tem tido condições de fazer alterações significativas, à semelhança do que se fez em França, por exemplo, na forma de acolher os idosos”.
“Deixar as pessoas num lar sem profissionais de saúde é uma situação anómala que tem de ser resolvida muito rapidamente, as misericórdias, as instituições sociais nenhuma tem condições para cuidar dos seus idosos” doentes, afirmou.
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