A Instrução Primária, assim designada naquela época, foi nas Escolas Brancas, a escola das meninas, e os meninos iam para as Escolas Amarelas. Foi com a D. Angélica e a D. Cândida Barroso que aprendeu a ler e a escrever. Cumprida esta etapa, era tempo de ir aprender a trabalhar nos teares em casa da Linda Rega e do Vitor, do Floriano Lama, da Miquinhas Moreira e do Zé Maria Taipa. O patrão era o Luís Teles, que colocava os teares em casa das dessas pessoas.
Da catequese também existem recordações, como uma cantiga cantada na Comunhão Solene.
– Ao raiar a manhãzinha venho a correr do Céu abraçar os meus amigos escondido neste véu. – e nós respondíamos:
– Oh Jesus que disseste um dia, deixai vir até mim as crianças, nós queremos sentir a alegria do teu peito que é feito de esperança
– Sob o véu em que me escondo quantas vezes vós me esqueceis, aquilo cheio de saudade eu pergunto se vireis. Oh Jesus, doce amor da nossa alma, o amor dá-nos pena de ti, nós gostamos dessa luz tão calma, do teu rosto que hoje nos sorri.
Já mais tarde, recorda-se de ao domingo os homens se concentraram junto à Barbearia do João “Barbeiro” para verem passar as moças todas jeitosas que vinham da missa. Já havia o Café Teles mas não era um local que frequentasse. Era mais habitual irem ver o futebol ao Carvalhal, curiosas até por conhecer os jogadores que vinham de fora. Para fora também foi um dia, numa história inesquecível que a faz sorrir.
– Fui até Figueiró, havia lá um leilão e o homem da “Cinda”, da tia Esmeraldina, chamavam-lhe o “Manel da Isabel”, era de Lordelo, vinha numa mota e eu fui dar uma volta, fui andando sempre mas não podia parar, não sabia parar e tive que andar às voltas até acabar a gasolina. – e mais uma vez solta uma sonora gargalhada.
Um dos marcos da vida da Maria Augusta é ter sido Mordoma das Festas na Nossa Senhora da Conceição. Os festeiros eram o Carlos Felgueiras, o Fernando Moura e o “Capas Negras”. Sabiam que a Mordoma tinha muito dinheiro angariado, não sabiam era quanto. Dinheiro que chegou para pagar à Banda de Freamunde e ainda sobrava dinheiro. Quando souberam foi outra festa, era só palmas e abraços.
O casamento de Maria Augusta com Abílio Moreira Nogueira, do lugar de Xisto acontece na véspera das Festas Sebastianas. Deste casamento resultou uma menina que morreu, dois abortos e quatro filhos, a Albertina Luísa, o Joaquim Nascimento, a Maria da Conceição, a Maria João, os netos Luís Manuel, a Ana Filipa, o Bruno Manuel, o João Paulo, o Ângelo e os bisnetos Eduardo, Tomás e Bernardo. Brevemente irá nascer mais um bisneto.
– Eu já fiz um poema aos meus filhos, netos e bisnetos. Queres que o leia?
– Claro que sim, deixou-me curioso.
Sementes da Nossa Semente
Sete sementes gerei
Restam estas quatro flores
Com um coração de ouro fruto dos nossos amores
Chegada a segunda semente
Que começa a germinar
Cinco netos de repente
Alegria do meu lar
Já com os oitenta e tal
P´ra consolar toda a gente
Dois bisnetos tão queridos
Fruto da terceira semente
Pobre, mas do coração
Este poema que fiz
Agradeço tudo a Deus o quanto mo fez feliz
Foi no lugar do Carvalhal que construíram a sua casa lado a lado com os seus pais, irmãs e irmão.
Da esquerda para direita: Abílio Moreira e Maria Augusta; José Santos (cunhado já falecido) e Alzira (irmã); José Ribeiro da Costa (pai) e Maria da Glória (mãe); Fernando Ribeiro da Costa (irmão) e Felisbina Taipa (cunhada); Maria José (irmã) e Idalino Ribeiro (cunhado)
Já com alguma idade é que Maria Augusta começou a escrever as suas quadras e os seus poemas tendo conquistado 15 Menções Honrosas, um terceiro lugar, e participação em edições colectivas nomeadamente da “Pedaços de Nós”, de que é a sócia n.º 1.
MULHER DE ONTEM E DE HOJE
Tu, mulher que tanto sofrias
De noite não dormias
Sempre a pensar na má sorte…
Se não fosse pelos filhos
Que à vezes são empecilhos
Tu preferias a morte.
Levavas por tudo e por nada
Não te davam o valor
Faziam de ti escrava
O teu corpo era um tambor.
Pobre de ti, ó mulher
Que em silêncio e segredo
Não lutavas em protesto
Dentro de ti estava o medo.
Ainda bem, tudo mudou
Tu, mulher de agora,
Fuma, refila, luta
Chama-lhe filho da puta.
Não o deixes avançar
Nem que te levante a mão
Impõe-te, dá-te ao respeito
Não o deixes ser machão
Pois tens o mesmo direito.