(…) Mas por norma não é assim, sendo este ano bem pior do que o costume. E perante este sufoco crescente das IPSS, as suas próprias uniões e confederações parecem anestesiadas e inexistentes. Não se vê o que fazem e para que servem. Por norma, têm dirigentes tendencialmente vitalícios, felizes pelas pequenas mordomias do convívio com ministros e ministras, mas em silêncio perante a inoperância a que se assiste.
Alguns andam aparentemente a reinserir socialmente acusados de pedofilia e com isso dão por bem empregue o seu tempo. Nobre e respeitável missão, diga-se.
As instituições estão a aumentar dívidas, a recorrer a empréstimos para assumirem despesas correntes e com tendência a agravamento da situação. Esta é a realidade de hoje. Com a quase totalidade dos seus dirigentes a trabalhar gratuitamente, com viaturas de serviço a esgotar-se, com equipamentos usados em estado final e sem que ninguém levante a voz em sua defesa.
É absolutamente inaceitável que o silêncio seja o comportamento de quem nos deveria representar nestes dias difíceis. O Governo mete no bolso os que deveriam falar por todos. E estes consentem e com isso dão prova da sua inutilidade. (…)
A pérola literária que acaba de encontrar é da autoria do Presidente do Centro Social de Santo Estêvão de Tavira e foi editada como texto de opinião no jornal Público e do qual extraímos diria certidão, para registo, dada a inesperada fonte de informação que o senhor ex-ministro, ex-deputado, ex-presidente da câmara e também ex-tesoureiro da CNIS e agora vendedor de laranjas nos oferece.
Paramos um pouco nas saudades e perfumes possíveis, relatados na primeira pessoa sobre a felicidade dada “pelas pequenas mordomias do convívio com ministros e ministras”; e, embora não saibamos o que isso é, admitimos que o autor saiba do que fala, esperando que um dia nos explique melhor que fonte de prazer é essa.
Mas depois da alegria, descobrimos um asia e uma tendência para o abismo relatada com a preocupação com “acusados de pedofilia”, num exagero difícil de explicar quando o objectivo é definir a situação dos actuais dirigentes da CNIS como “absolutamente inaceitável que o silêncio seja o comportamento de quem nos deveria representar nestes dias difíceis. O Governo mete no bolso os que deveriam falar por todos. E estes consentem e com isso dão prova da sua inutilidade”.
A campanha eleitoral na CNIS
O nosso jornal em 2018 escreveu um artigo sobre o modelo de governação da CNIS e não temos motivos para alterar esse texto. E quem nos conhece sabe que a disputa eleitoral é entendida por nós como um bem em si, além de permitir o refrescamento das organizações. Contudo, cinco meses depois das eleições que definiram os actuais órgãos, assistir a uma campanha precoce, é motivo de preocupação, por se entender que os desejos e ambições próprias devem manifestar-se em momentos próprios, dando e respeitando o tempo necessário para os mesmos órgãos apresentarem o trabalho a que se dedicaram.
O texto acima citado do ex-tesoureiro da última direcção da CNIS, levemente refrescada, constitui um insulto institucional que se não percebe sobretudo quando ultrapassa a crítica embora foleira e pessoal, não se entendendo a utilidade que não seja para marcar terreno, convocar tropas (se as houver) e dizer que pretende regressar ao poder, presumimos nós, para impedir que qualquer Governo se veja impedido de o “meter no bolso” e assim salvar a nação das IPSS.
Este texto do ex-tesoureiro – que não teve tempo de acabar o serviço que ficou em aberto e agora é preocupação dos actuais dirigentes – contudo, não é peça única na “campanha eleitoral” em aberto. Logo na primeira assembleia geral se manifestou um democrata de Braga que não contente por ter na direcção alguém que garantia a liturgia própria do reino, entendia que “dada a pouca mobilização” no último processo eleitoral….. se podia caminhar – não o caminho de Santiago – o caminho de Amares e explicar a todos e sem pimenta que novos dias se anunciariam.
Além do rosário minhoto, também se verifica a “mobilização dos esqueletos” que ali no Porto encontraram súbita inspiração e ânimo na tentativa de restaurar glórias do passado – agora é que vai ser, nós temos líder – e na táctica do quadrado desenham esquadrias em cima da variável que afinal não se mexe. Espanta aqui a falta de respeito pela actual direcção!
O que interessa a todos
Perante os cenários que partilhamos com os nossos leitores (e não o fazemos por gosto, mas por obrigação) assinalamos que o actual momento sócio-político no nosso país é grave e mesmo perigoso em matéria de gestão das comunidades locais. E sabemos que a situação irá piorar, dada a tendência conhecida bastando olhar para a experiência actual vivida em França.
As nossas instituições vão estar na linha da frente desta luta, com as implicações que isso vai definir, exigindo de todas as organizações os melhores líderes. Precipitar a discussão eleitoral na CNIS com esta antecedência e com os argumentos conhecidos, pode levar a que se ponha em causa a dimensão da organização e a sua representação. Não se vê que haja cadeiras para tantas vocações e mesmo destinações.
por Arnaldo Meireles
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Foto Macário Correia in Público: https://www.publico.pt/2022/07/18/impar/reportagem/macario-correia-exgovernante-cavaco-produz-laranjas-limoes-2013950
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