Dar colinho a quem?

Em agosto de 2023, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, liderou o top de exposição mediática, ao protagonizar 199 notícias com 9 horas e 53 minutos de duração durante o mês. Note-se que esta análise exclui eventuais programas, debates ou entrevistas realizadas no período e que na contabilização do tempo se considera o tempo total de duração da notícia.

O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, foi segundo, protagonizando 62 notícias, com 2 horas e 9 minutos de duração.

O Primeiro-ministro, António Costa, registou a terceira posição, com 44 notícias de 1 hora e 58 minutos de duração.

Luís Montenegro, presidente do PSD, ocupou o quarto lugar, intervindo na primeira pessoa em 46 notícias com 1 hora e 48 minutos de duração.

Jorge Roque da Cunha, (secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos) foi quinto, protagonizando 33 notícias, com 1 hora e 27 minutos de duração.

Roger Schmidt (treinador de futebol do SL Benfica), André Ventura (presidente do Chega), Joana Bordalo e Sá (presidente da Federação Nacional dos Médicos), Paulo Raimundo (secretário-geral do PCP) e Carlos Moedas (presidente da Câmara Municipal de Lisboa) completam a lista dos 10 nomes que protagonizaram notícias de maior duração total durante o mês de agosto de 2023.

 

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Esta análise considera apenas os serviços regulares de informação dos canais em análise durante o mês de agosto de 2023. Em análise, estão os seguintes programas: Jornal da Tarde, TeleJornal e Portugal em Directo (RTP1); Jornal 2 (RTP2); Primeiro Jornal e Jornal da Noite (SIC); Jornal Nacional e TVI Jornal (TVI).

Para que uma individualidade seja considerada protagonista de uma notícia, a sua intervenção na mesma deve ser direta e uma notícia pode ter mais do que um protagonista associado. As intervenções de comentadores televisivos com espaços fixos não são consideradas nesta análise.

Democracia para quem?

Precisamos de admitir que a prevalência desta ou daquela figura pública tem a  ver com os acontecimentos verificados. A esmagadora presença do Presidente da República desnivela qualquer análise e mostra a dependência das televisões desta figura mediática que as controla com um simples respiro.

Mas estes dados da Marktest também nos indicam que a informação televisiva que temos está longe da realidade do país ao mesmo tempo que condena ao silêncio líderes comunitários que não entram nos estúdios de televisão – a não ser que estejam disponíveis para entrar no baile da vulgarização.

A informação que temos não corresponde ao país real e daí a queda das audiências de todas as televisões generalistas que hoje lutam pelo objectivo de 25% do bolo publicitário existente. Quer isto dizer que com as escolhas que fazem, as nossas televisões acabaram condenadas ao vulgar respiro dos mesmos perdendo clientes para canais especializados e para outras plataformas onde a sua decisão corresponde à procura.

A “normalidade” das televisões de Lisboa tornou-se tão previsível que desistimos de as ver quando todas, ao mesmo tempo e no mesmo horário, emitem a mesma notícia….

E se o dinheiro escasseia para tamanhos orçamentos – eu sei que o Governo está sempre disponível para adiantar receitas futuras se for preciso – piora a percepção democrática da informação disponível.

Para quem começou a ver televisão a preto e branco – em 1957! – assistiu à televisão das cores que Abril permitiu, testemunhar esta ligeireza e falta de foco no essencial “do que está a acontecer”  constitui um alerta que importa aqui colocar: como podem as andorinhas desenhar a liberdade no céu quando lhes fechamos as rotas do voo livre?

Por Arnaldo Meireles

 

 

 

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