Fadiga da informação, a inteligência artificial e a desinformação – os lados do desânimo dos jornalistas e consumidores de informação confusos de tanta “novidade” e nenhuma explicação credível do que realmente está a acontecer. Esta é a face da crise do Jornalismo que está transformado numa questão de sobrevivência da civilização como a conhecemos.
Tem a sensação de que sabe tudo o que acontece, na sua terra e o mundo, mas de facto pouco conhece do que realmente está a acontecer? Este artigo é para si que procura na informação que lhe é fornecida a autenticidade que merece.
O cansaço que sentimos apresenta-se com sintomas de fadiga informacional, dada a repetitividade da mensagem, num massacre sobretudo televisivo, a partir de um “alinhamento de notícias” meticulosamente desenhado para o manter “preso à tela” e assim garantirem os “informadores” o maior número de pessoas e de tempo que cada um com isso se entretém.
Trata-se de explorar e desenvolver os sentimentos primários que todos temos, muitas vezes sem estarmos dotados das defesas necessários para nos protegermos deste abuso comercial.
Recordo que a OMS define saúde pública “como a ciência e a arte de prevenir doenças, prolongar a vida e melhorar a saúde física e mental a nível individual e coletivo” … como podemos pois “fortalecer o sistema imunológico da informação que temos”?
Os donos dos media e a indústria de comunicação
Uma notícia não é um produto que se vende e compra segundo os preços de um mercado mais ou menos favorável aos detentores dos grandes capitais e/ou aos seus desígnios ideológicos.
Contudo, as empresas jornalísticas são frequentemente tomadas por licitantes financeiros onde, a cada momento prevalecerá na maioria dos casos, o interesse do capital com mais ou menos decisão de quem paga e mais ou menos independência de quem dirige redacções. O ideal, todos o sabemos: encontrar investidores que conheçam o risco de capital e assumam que vale a pena apostar na independência das redacções.
É certo que apostar na independência das redações é o único caminho para o sucesso dos órgãos de comunicação. Mas isso só o entende quem pela indústria da informação se deixou formar.
Atentemos ao que tem acontecido com cada aquisição conhecida, normalmente seguida pelo desmantelamento do aparato industrial, reduzindo o número de jornalistas, favorecendo a tecnologia para produzir em quantidade sem fé ou lei, reduzindo o número de dias de investigação, muitas vezes atacando o conteúdo, na melhor das hipóteses instilando uma confusão de géneros jornalísticos – por vezes em competição com textos comerciais – ou mesmo peças de entertenimento seguido de promoção nas redes sociais.
Fazer jornalismo é caro, e é necessário muito dinheiro. Mas de onde tem vindo esse “perfume”? Uma análise aos últimos quarenta anos explica-nos que na base de investimento sempre existiu “razão política” ou mais precisamente “razão partidária” quer para investir quer para tratar da aniquilação de alguns títulos portugueses.
Mas também intervenção de vários governos, nem que tenha sido por “antecipação de receitas”! Quer isto dizer que o “investimento em jornalismo” está longe se ser inocente.
Fortalecer o poder dos media
Todos aceitamos que a informação jornalística é um (bem) comum. E como qualquer recurso comum, deve ser governado por uma comunidade de utilizadores que estabeleçam as regras de boa gestão e governação para não só protegê-lo, mas também garantir o desenvolvimento da sociedade.
Mas para garantir isto é necessário estabelecer caminhos de garantia de isenção do trabalho jornalístico, com a protecção do “estatuto de jornalista” que lhes garanta segurança no exercício de funções e o liberte do “preconceito censor” que o atemoriza e lhe faz esconder a “íntima audácia” que o anima quando abraça a profissão.
Jornalistas confiantes, sem medo, e seguros na sua profissão, fornecer-nos-ão informação que nos reconcilie com os jornais, rádios e televisões que temos.
O descalabro das redes
O perigo da “informação” das redes está na sua gramática original: O “redactor” tem o espaço de 145 palavras para “definir” a mensagem! Que melhor “escola de ditadores” poderíamos ter que esta que impedindo o relato, evita a explicação e obriga os “redactores” a “afirmarem” a sua posição.
Isto não é informação, isto não é novidade nenhuma, é apenas o mais recente hino ao berro colectivo, dado que ninguém escreve para informar mas para assinalar o que cada um “sabe”! Saberá?.
E é assim que verificamos que o espaço público se tornou caótico. Do seio deste caos terá de nascer a indústria do jornalismo do futuro que nos abra a janela da civilização e nos garanta a democracia – as duas primeiras vítimas da “fadiga da informação”.
Por Arnaldo Meireles
Todos querem uma sociedade justa. Nós lutamos por ela, Ajude-nos com a sua opinião. Se achar que merecemos o seu apoio ASSINE aqui a nossa publicação, decidindo o valor da sua contribuição anual.