As aranhas do poder nas teias da formação

A “formação” tem sido um mar de consolo para profissionais que na legislação encontraram um maná de intervenção semeado pelos diferentes governos que após integração da Comunidade Europeia passaram a “regulamentar” as diferentes actividades, sobretudo aquelas que se relacionam com a coisa pública, ou dito de outro modo, com os diversos poderes.

E neste entretanto verificamos a manifestação de figuras e personagens, capazes de interpretar distintos papéis sempre adaptados às circunstãncia da vida. Mas importa que haja memória e por isso cautelas quando pedimos que alguém entre na nossa casa, no intuito de nos indicar o caminho.

Ora acontece que em tempo de férias e nas distrações do dia tropecei num “guia” que diria de marcha para antigas memórias que em tempos experimentei e me dizem que a vida dá muitas voltas e que o futuro não nos pertencendo é questão de destinação: uns terão mais sorte que os outros!                                               

Encontrei-me com a publicação “Guia das Exigências em Estabelecimentos de Apoio Social e IPSS” da distinta autoria de Simões de Almeida e distribuído em “acções de formação” pelo país designadas: “IPSS | Lançamento do Guia e Debate Formativo sobre Inspecções”.

Quer isto dizer que Sua Excelência o Ex-Inspector (de muito má memória) da Segurança Social, Dr Simões de Almeida, ocupa neste momento e pelos vistos nos últimos anos a sua distinta inteligência e saber a explicar às IPSS como se devem organizar em face da Inspecção da SS que pode acontecer a cada momento.

Pela minha parte, sempre achei que a lei geral bastaria na República. Mas fiquei a saber que não, nomeadamente no tempo do senhor Inspector na perseguição que desenvolveu sobre determinadas instituições que precisaram até de se defender (e vencer) em tribunal perante o avanço da Tutela. Sim, o senhor Inspector actuava porque  na legitimidade da tutela, na interpretação que dava aos regulamentos que a tutela determinava e fiscalizava de acordo com o método de sua Excelência.

O role de vítimas é conhecido, a voracidade do senhor Inspector também e os tempos acabaram por garantir – depois de muitos anos de luta dos dirigentes das instituições – uma relação de respeito institucional.

Sendo esta a memória construída pelo senhor Inspector e depois senhor Secretário de Estado, também se sabe que o poder é efémero e que há que tratar da vida. E assim foi.

Na sequência da queda do Governo Sócrates, o senhor ex-Secretário e ex-Inspector entendeu-se dotado de especial competência para “explicar ” às IPSS como se deveriam defender preparando-se para as inspecções… E agora descobrimos nós que até há um livro, isto é, um Guia para prevenir, digamos sustos, complicações com as Inspecções…

É claro que o que concluímos é que não há vergonha, quando o carrasco se apresenta como salvador perante a vítima que na dificuldade procura a facilidade ali oferecida “com currículo de excelência”!

As inspecções e a lei

É muito estranho, no universo das IPSS, que alguém se dedique a explicar “como reagir a uma Inspecção”, quando se sabe que no Estado de Direito a lei impera e se espera que o Estado não abuse da lei.

Neste caso importaria que sua Excelência o senhor ex-Inspector nos explicasse o que fez nessa qualidade para explicar aos seus então funcionários o enquadramento e entendimento que deu a conhecer quando estes “invadiam as instalações das IPSS sem aviso prévio” e com atitudes de “abuso de poder”, sem respeito “pela autonomia” das instituições.

Terá feito sua Excelência o senhor ex-Inspector um Guia sobre como inspeccionar as IPSS de acordo com a lei da República e da Constituição? Porquê então o recurso a Tribunal por parte das instituições para se deferem das acusações que promoveu?

Ontem como hoje, sempre as IPSS pediram o mesmo: Cumprimento dos contratos, no respeito mútuo institucional e regulamentar. E nas inspecções – previstas na lei – o respeito mútuo garantido pela autonomia constitucional que constitui este território social.

A vida custa a todos!

Todos merecem novas oportunidades. Mas é preciso não ofender a memória de quem sofreu às mãos deste carrasco. E por isso se pede algum decoro quando sua Excelência o senhor ex-Inspector se apresenta como “formador” de boas práticas no domínio da economia social.

E por causa disto, recordemos a criação do CEIS, lembram-se?

Ora VEJA: https://sociedadejusta.pt/socialworkers/ceis-perplexidades-na-formacao/

A função da aranha

Tecedeira da sua casa, que é ao mesmo tempo armadilha e armazém, a aranha tem uma misteriosa ligação com a lua;.Apesar da sua grande fragilidade, nas mitologias antigas a sua teia é associada ao cosmos e a aranha é assim uma criadora do Mundo em muitas tradições. Para algumas culturas, ela é responsável por tecer a realidade, para outras é ela que tece a aparência ilusória dessa mesma realidade

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As aranhas do poder na teia da formação

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