Lemos e ouvimos que Portugal tem atualmente uma economia florescente. Neste sentido relevam os níveis de desemprego, que estará controlado, o crescimento das exportações e a inflação, que se mantém estacionária, ou, mesmo, em sentido descendente. Mas este parece ser o lado luminoso. Porque há um outro lado menos brilhante, que veste “fato de gente”, mas que neste palco não tem o mesmo protagonismo.
Trata-se, fundamentalmente, de quem trabalha, ou de quem trabalhou, e vive com os réditos provenientes do aforro que foi construindo em instituições existentes para o efeito: Segurança Social e outras.
Na verdade, temos lido que as empresas (especialmente as de maior dimensão) vêm apresentando lucros fabulosos e seria “natural” que os seus trabalhadores vissem também os seus rendimentos elevados, de uma forma mais ou menos correspondente, mas a verdade nua e crua é que tal não acontece.
Assiste-se, pelo contrário, ao “choradinho” de que as empresas não podem suportar custos mais elevados, ao que os governantes económicos dão uma ajudinha, porque tal aumentaria a inflação, dentre outras desculpas de mau pagador.
Empobrecimento acentuado
Entretanto, os salários são permanentemente “comidos” pela inflação e passam a valer cada vez menos e acentua-se o empobrecimento.
Ora isto não é novidade nenhuma. Desde a longos anos que a relação entre o rendimento do capital (empresas) e do trabalho vem sendo cada vez mais desfavorável aos trabalhadores.. Constitui, mesmo, um objetivo do sistema neoliberal dominante, que este diferença aumente, assim como decresçam as prestações do Estado Social.
É certo que se vem assistindo a um crescimento de protestos, mas é notória a perda de força do movimento sindical, resultante da correlação de forças entre patronato e trabalhadores, e também da difusão de muitas “pias” doutrinas e chavões “modernaços” apelando ao conformismo, em contraponto às “maléficas” consignas reivindicativas. “cheirando” minimamente a socialismo ou mesmo social-democracia..
Assim, muitos trabalhadores desistem de lutar pelos seus reais interesses e “embarcam” nos comboios dos líderes providenciais, cavalgantes críticos absolutos de tudo o que existe, prometendo, com os seus devotados apóstolos, a Boa Nova – um “filme” que já “rodou” por cá mais de 40 anos.
Álvaro Neto, director Gazeta de Paços de Ferreira e membro da direcção da ANIR – Associação Nacional de Imprensa Regional
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