GILLES LIPOVETSKY esteve em Braga e falou da sua mundovisão, como filósofo e também como sociólogo que vive em França. Chama a atenção para a “era do vazio” que vivemos onde se não encontram referências de outras eras, os seus valores correlativos, e refere a “insegurança” como um sentimento estruturante, mas também o “medo do desconhecido” carregado de “desconfiança colectiva” num movimento quiche (do alemão Küchen), uma espécie de “ecletismo” que se impõe nos mais variados sectores do “saber”. Mas nos dias de hoje o que é isso do “saber”?
A solidariedade social como etapa de interpretação e acção no mundo de hoje
Já na etapa final, dispensados das perguntas da senhora que entrevistou o Lipovetsky, aconteceram dois momentos cruciais. Pretendeu saber o público se não estaríamos na altura de experimentarmos a “fraternidade” como paradigma da acção pública (política) para encontramos o critério (hermêutico) no diálogo entre visões contraditórias, depois de se ter experimentado a igualdade e a liberdade: coisas e valores que chegaram em 1789 com a revolução francesa!
Lipovetsky – desafecto à visão cristã da Europa e da vida – entendeu o toque e sublinhou esses valores como estruturantes da vida social e colectiva mas, dada a complexidade de “mundividências” que as sociedades abertas e plurais permitem, colocou o valor da “solidariedade social” como método de análise e acção.
Segundo este sociólogo, a “solidariedade social” é o campo hermenêutico para inspirar uma atitude de intervenção na comunidade numa perspectiva integradora das culturas que hoje inspiram as afirmações e narrativas culturais que acabam sempre por ter uma acção política.
É importante lembrar – até para se perceber esta afirmação do filósofo e sociólogo – que nos registos policiais das autoridades daquele país, objecto de muita preocupação para o ministério da Administração do Governo francês há registos de “bairros residenciais perdidos para a República”.
Esta realidade coexiste também com a referida “extrema-direita” mas também com o aumento das tensões sociais (raciais) entre judeus e muçulmanos.
É neste cultura de conflito que sustenta a vida de conforto da sociedade burguesa francesa que se tem de encontrar num caminho para entender e agir comunitariamente. Daí a “solidariedade social” como método de acção segundo o autor.
A Estética no desenho e construção das cidades
Já em cima do “apito do árbitro” surgiu a questão concreta mais desafiante e que consistia em interrogar a “estética” enquanto abordagem filosófica que possa ou deva inspirar quem desenha e constrói cidades… De facto esta área da filosofia estuda e tenta compreender o que é belo nas manifestações da natureza como nas manifestações artísticas produzidas.
Ora, interessa discutir o traço e as suas consequências na vida comunitária e social e com eles ajudar ou ver um sentido/entendimento que favoreça a vida comum.
Isto é, concretamente, o desenho do arquitecto e a execução do construtor, exigido nos cálculos do Excel – por motivos óbvios, tendo em conta a viabilidade económica “da obra” – precisa de ter uma reflexão prévia para se saber qual o “sentido” do traço, ou seja, que cidades desenhar para as pessoas que precisam de uma interpretação da vida comum a partir do paradigma oferecido pela “solidariedade social”.
Mas estávamos “nos descontos” e perante a “relativa” surpresa da pergunta e a hesitação do filósofo ficamos com a sensação que levou para França uma série de trabalhos para fazer de modo a responder à questão colocada.
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Por Arnaldo Meireles
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